segunda-feira, 7 de junho de 2010

Terá sido um sonho? (Ep. 1)

Ouço muito barulho. Ouço pessoas a gritarem, ouço os passos delas num lado para o outro. Incomoda-me. Sinto dores de cabeça. Tento abrir os olhos mas não consigo. Não entendo porquê. Quero levar a mão à cara mas parece que não tenho forças. O barulho parou. De repente, fez-se silêncio. Com um maior esforço, consigo abrir um pouco os meus olhos mas a luz é muito forte. Vejo tudo desfocado. Sinto-me pesada. Com dores. Consegui abrir mais os olhos e vejo uma porta semi-aberta. Vejo alguém a passar, do lado de fora, mas quando tento chamá-la, faltou-me a voz. Levo a mão, muito lentamente, à cara e sinto uns tubos no meu nariz. «O que se passa?», pensei eu. Consegui ver melhor a porta. Era a porta 29. Viro-me para o outro lado e vejo janelas, onde o sol bate com intesidade. No parapeito vejo fotografias e muitas flores. Reparo nas máquinas ao lado da minha cama. Fazem barulho. Pi... Pi... Pi... Pi... «Estou no hospital?»

Depressa os meus pensamentos são interrompidos por uma voz estridente, que magoam os meus ouvidos. Fecho os olhos com força.



- BOM DIA, menina Sara! - Cumprimentou uma enfermeira. - Peço desculpa... - Diz num tom mais baixo. - Nem sabe a alegria que nos traz! Precisa de alguma coisa, menina Sara?

Tento falar mas estou fraca. Abro a boca mas não consigo fazer nenhum som.

- Descanse, menina. Vou chamar o seu médico... Nem vai acreditar. - Disse, saindo do quarto.



Sara olhou para a mesinha de cabeceira, onde estava uma fotografia dela com as suas duas irmãs e conseguiu esboçar um pequeno sorriso. Entretanto, uma voz grossa aproxima-se do seu quarto, fazendo com que Sara fique a olhar para a porta. O médico entra no quarto, com um grande sorriso. Era alto, tinha cabelo escuro aos caracóis e um sorriso bastante querido.



- Como é bom começar o dia assim! - Disse, radiante. - Ainda não fomos propriamente apresentados, não é verdade? - Sorriu. - Sou o Dr. Costa, o teu médico. - Sentou-se na cama. - Como estás? Dói-te alguma coisa, Sara? - Mostrando-se preocupado.

- Sim... - Consegui dizer. - A cabeça... Muito... - Vieram-me as lágrimas aos olhos.

- Pronto, pronto. Não precisas de chorar... Vamos já tratar disso... - Limpou as lágrimas da Sara, fazendo um sorriso. - Acordaste para festejar os teus anos, não é verdade? Esperta! - Sorriu. - Só se faz vinte e cinco anos uma vez e não quiseste perder esse dia, não foi?

- Sim... Finalmente os vinte e cinco... Já estava cansada de dizer a toda a gente que tinha vinte e quatro anos...

O médico mudou de expressão. Olhou para a enfermeira, que também estava com um ar preocupado.

- Passa-se alguma coisa? Está tudo bem? - Perguntei-lhes.

- Sara... - Começou o Dr. Costa. - Sabes porque estás no hospital? E há quanto tempo estás aqui internada?

Fiquei pensativa. Não consigo lembrar-me. - Não... me lembro porque estou aqui... Mas não estou há muito tempo porque só agora é que vou fazer vinte e cinco anos, não é?
- Sara, estiveste envolvida num acidente de carro enquanto ias para Braga... há seis anos...
Rapidamente Sara mudou de expressão, não estava a entender, não podia acreditar. E não acreditou.
- Não... - Abanou a cabeça. - Não... É impossível... Eu tenho vinte e quatro anos e vivi-os todos... Eu lembro-me da minha vida... Não pode ser... Estão a brincar, não estão? - Começou a rir-se. - Quero ver o meu namorado. - Ficou séria. - Podem telefonar-lhe? Preciso dele! - Virou costas tanto ao médico e à enfermeira e começou a chorar...