quinta-feira, 24 de março de 2011

Terá sido um sonho? (Ep. 3)

Sara acordou, doia-lhe muito a cabeça. Quando se levantou, reparou no molho de cartas que o Vasco tinha trazido no dia anterior. Decidiu abrir uma delas, por curiosidade. Com algum esforço e desconforto, Sara alcancou a mesa de cabeceira e conseguiu apanhar três cartas, deixando o resto cair ao chão. Não se importou. Abriu a carta que datava Novembro de 2009. É o seu mês de aniversário. Lembrava-se perfeitamente dessa noite como se fosse ontem.

A campainha não parava de tocar. Os convidados estavam a chegar aos poucos, enchendo rapidamente o salão. Sara estava a por o perfume, enquanto escolhia mentalmente a pulseira que iria utilizar ou «Talvez o anel que avó ofereceu...», pensou, o seu telemóvel antigo vibrou, dando sinal de mensagem recebida. Era o Afonso. Já estava lá fora, junto ao portão verde. Rapidamente, desceu todas as escadas e chegou até ele. Ele sorriu ao ver Sara tão bonita e feliz. Sim, para Afonso tudo o que mais interessa é vê-la com um grande sorriso na cara. E como ele adora o riso dela. Entraram no salão e foi apresentado à família toda. No final, depois de todos já terem saído, ele ficou um pouco mais, agora com privacidade. Deitados no sofá, conversaram sobre o tudo e o nada, como o costume.

Despertou para a realidade quando ouviu a chuva a cair intensamente. Assustou-se um pouco, até. Olhou para as mãos e lembrou-se do que ia fazer. Rasgou o envelope e abriu uma folha branca. « Querida, hoje é o teu dia. (...) Tenho imensas saudades tuas, volta rápido, por favor. Para sempre, Vasco » Sara não quis acreditar mas admitiu a si mesma que esta é uma prova irrefutável do seu acidente em 2009. Pegou na outra carta, de Janeiro 2010, e verifcou o mesmo.
Sara começa a chorar quando se apercebe que foi tudo um sonho. Ela sabia que aquela história de amor parecia mesmo um conto de fadas mas agora sabe que era só isso mesmo. Uma história de encantar. Algo impossível de ter acontecido. Sara viu toda a sua vida exactamente como está. A vida que tentou mudar e conseguiu mas que agora tudo é mentira. Tudo teria sido um sonho. Apenas um sonho.

Na companhia da sua irmã mais velha, Sara foi para casa. Estava tudo igual. A cidade onde vivia estava igual. Foi ao registo das mensagens do telemovel e não tinha nenhum sinal do Afonso, nem no computador. Lembrou-se que tinha um blog e um diário mas também sem qualquer prova da existência desse "grande amor da sua vida". Sara pôs os pés bem assentes no chão, voltando à realidade. E conformou-se com a vida que tinha agora. A mesma de sempre.